quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Palavras, meu ser

Sou como as palavras, formadas por letras que se misturam. Forma, significado, sentido. Tudo variável conforme o humor, a interpretação, o leitor, o tom de voz. Palavras que têm vida própria ao se materializarem vindas de mero pensamento. Que correm pelo cérebro, tocam o coração e ultrapassam as mãos prontas para serem escritas. Ou que saltam aos olhos querendo ser lidas.

Assim também sou eu. Formada por uma mistura. De experiências, de hábitos, de manias, de vontades, de pessoas. De experiências que me fazem crescer, hábitos enraizados que compõem meu jeito de agir, manias que me fazem única, vontades que me movem, pessoas que me marcam. E isso é só o princípio de tudo o que sou.

Sou aquele livro que me encheu de ideais, sou aquele filme que me fez chorar, sou aquela música que simplesmente tocou no momento mais oportuno, sou aquela poesia que parece ter sido feita exatamente para mim. Sou cada dia passado com um amigo, cada conversa, cada conselho. Sou cada festa, cada grito, cada movimento. E em tudo isso palavras, palavras, palavras.

Eu as vejo em tudo o que vivo e gosto de me identificar com elas. Nos damos muito bem. Eu presto atenção em sua presença, seus significados, e em troca elas me escapam pelos punhos, pelos lábios, me permitindo expressar o que quiser, criar o que bem entender, viajar para onde preferir. A cada instante uma palavra. Afinal, tudo que nos faz humanos é composto por palavras, por mais que você não perceba.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ética leva a senso crítico, senso crítico leva à Ética

As cidades cresceram, o mundo foi modernizado. O homem evoluiu, e com ele a necessidade de se comunicar. A comunicação social hoje vai muito além do jornalismo. Publicidade, hipermídia, indústria do entretenimento: fusão de informação e diversão. A imprensa foi conduzida a um novo posicionamento, no qual até a própria cidadania se torna um espetáculo. Idéias são vendidas, e os jornalistas atuam cada vez mais como agentes das relações públicas, repetidores de informações. Para ir além é preciso muito senso crítico. E é aí que entra a ética, fundamentadora da essência jornalística.
A formação ética estimula o desenvolvimento desse senso crítico promovendo discussões, englobando temas incômodos, levando à reflexão. A boa atividade jornalística depende de estudo e de um olhar fundamentado, atualizado e independente. Se o jornalista não possui consciência cultural, social e histórica, acaba tornando-se vulnerável na era das relações públicas. Assim, o preparo ético se mostra fundamental para o trabalho técnico.
É também preciso ter senso crítico para saber lidar com os três “tipos de ética” implícitos no cotidiano de um jornalista: a ética do jornalismo, a do profissional, e a do jornal, ou, verdade, consciência e conveniência. Estas acabam, por vezes, a conduzir o jornalista a dilemas muito conhecidos no universo jornalístico. Chega-se ao desafio de focar a verdade para ir a favor da consciência sem abandonar a conveniência. E para passar por isso, só com bastante senso crítico mesmo, afinal, o jornalismo pode ter perdido sua hegemonia e até espaço público, mas não pode perder a sua essência.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Não existo. Sou apenas mais uma invenção da mídia. Não passo de um fruto da indústria cultural, de uma mente alienada na “era da informação”. Não sou nada além daquilo que convém ao sistema das relações públicas generalizadas. Não vejo nada além do espetáculo diário promovido pelos meios de comunicação. Não penso, não discuto, não brigo, não corro, não ouço. Não sonho. Não mudo. Mas assisto, me impressiono, compro, vou ao trabalho, volto para casa, compro, vejo as imagens, consumo, gasto, compro, economizo, desejo, acumulo, compro. E nessa vivência monótona e previsível boto o cabresto que me faz seguir a tal lógica do espetáculo promovido pelos meios de comunicação, sem fugir da linha que interessa às grandes influências políticas. Sobrevivo, sem qualquer resquício de senso crítico ou vestígio de opinião formada e definida. Minha única obsessão é composta por essas imagens, essas pessoas que vivem uma realidade tão distante da minha, uma realidade em que tudo é bonito, luxuoso, tudo pode dar certo e todo mundo acaba feliz. Pessoas que têm uma vida muito mais interessante que a minha. Uma realidade em que todos sempre vêem motivos pra estarem contentes e cujos maiores problemas são aquele amor distante, os pais que não aceitam um relacionamento ou uma diferença social tão ardentemente enfrentada. Imagens que me afastam da minha própria realidade e me criam um novo mundo tão próximo... e inatingível. Assim vou levando cada dia, aguardando que as coisas aconteçam da forma que espero, da forma que criei em minha mente... Ou que foi incutida em minha cabeça. Sinceramente, não me importa. Porque essa minha realidade imaginária é mais bonita, é mais fácil. Deixei-me transformar em marionete absolutamente manipulável por aqueles por aqueles que detêm o poder de iludir. Porque eu me iludo. E enlouqueço na busca frenética de uma felicidade que não me pertence e de uma imagem que em nada me completa. E não me encontro. Como poderia? Afinal, não existo, sou apenas uma arma de consumo em massa.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quantidade X Qualidade

Qual é a sua faixa etária, classe social, nível de estudo? O que você comprou, quanto consome, qual a sua renda? Você tem acesso a um computador, julga que a informação chega até você? Você já teve dengue, rubéola, alguma doença sexualmente transmissível? Parabéns, você é um número! Mais um componente das estatísticas que tentam nos retratar enquanto sociedade. Quem é você? Sinto informar, não interessa. O seu valor vem em conformidade com o que presta à sociedade.
Funcionalismo, você é a função que exerce. Depois da era industrial, perdemos gradativamente a consciência de quem somos e nos tornamos peças da grande máquina que faz a sociedade funcionar, na qual cada um tem uma utilidade e quem não se faz é útil é inadvertidamente descartado sem qualquer consideração a respeito de sua personalidade. Isso foi assimilado de tal forma que se reflete nos hábitos que possuímos hoje de supervalorização da quantidade em relação à qualidade.
É preciso perceber que a quantidade de livros lidos, de anos de estudos, de empregos listados, de festas freqüentadas, de bocas beijadas ou dinheiro acumulado não faz uma pessoa necessariamente mais experiente, querida ou qualificada, pelo contrário, a qualidade vem da maneira com que cada situação foi aproveitada. É preciso haver a substituição dos números pelas vivências. É preciso aprendermos a valorizar a individualidade, o caráter e as particularidades que distinguem cada pessoa.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Datas comemorativas ou datas comerciais?

Corpos curvilíneos estampam outdoors, páginas de revistas e a tela da televisão, a beleza artificial contida nos comerciais nos induz a consumir cada vez mais produtos e menos idéias, a banalização dos sentimentos e a vulgarização do próprio corpo humano difundidas pela mídia se refletem na inversão de valores tão clara na sociedade. E o alvo principal somos nós, mulheres e jovens, afinal, quanto mais insatisfeitos mais consumimos. É o ser humano sendo tratado como objeto para movimentar o comércio e aumentar a renda de uma parcela mínima da população.
Tal interesse pode ser notado claramente nas datas comemorativas que cada vez mais se afastam do seu real sentido para serem transformadas em meras datas comerciais batendo recordes de lucratividade. Acostumamo-nos a dar como pronta e encerrada qualquer informação que chega até nós e a aceitar como cultura a massificação imposta pelos meios de comunicação. Agimos como objetos do capital.
Dia internacional da mulher, dia do índio, dia das mães, dia dos pais, natal, páscoa, dia das crianças, dia dos namorados, e dá-lhe liquidação! Qualquer data que possua um diferencial serve como pretexto para vendas, se não há pretexto cria-se um, e lá vem o comercial para nos convencer da importância do presente, da lembrancinha, como se nossos sentimentos estivessem contidos naquele material enquanto nos afastamos cada vez mais uns dos outros e nos afundamos em nossos sonhos de consumo.
E assim nos tornamos espectadores da vida, como voyeurs de nossa própria existência, assimilando o que nos é imposto dia após dia. Esquecemos do real sentido de cada uma de tais datas comemorativas, das lutas de nossos antepassados, perdemos a consciência de nós mesmos enquanto seres pensantes. E você, conformado, deve questionar, e o que é que eu posso fazer? Pois digo-lhe, ame muito e cada vez mais, ame a si mesmo acima de qualquer produto, desligue a televisão e saia da internet um pouco e leia aquele livro que parecia legal, interprete a poesia que você não entendeu, dê um sentido àquela tela ou escultura estranha, ouça uma música diferente e observe sua composição, assista aquele espetáculo que parecia interessante. Torne-se dono de seu próprio querer, não se contente com o que já sabe e torne-se senhor de sua própria mente.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Cansei de esperar por um algo mais que nunca vem. Cansei de tentar descobrir o que falta. Cansei de sentir mais ou menos. De agir mais ou menos. De ser mais ou menos. Cansei de esperar. Cansei de ser tola. Afinal, a minha felicidade depende de mim mesma.

domingo, 8 de março de 2009

A arte da Reflexão


Educação de qualidade é resultado do perfeito equilíbrio entre ensino e apredizagem, como que pesados em dois pratos de uma balança, de forma a preparar os alunos para o mundo e principalmente ensinar a reflexão. Apenas esta permite a modificação das estruturas sociais para uma sociedade mais justa, sendo nada mais, nada menos, que a quase extinta arte de pensar, ver-se como um ser racional e sentimental inserido num meio social para com o qual tem responsabilidades. Um ser cujas ações possuem conseqüências.
A diversidade cultural existente clama por um novo modelo de escolaridade, que vise mudanças futuras e novos padrões de comportamento. O ser humano está em formação constante ao longo da vida e deve aprender desde o princípio a auto-análise, a interpretar os contextos situacionais, a refletir e ir contra o dogmatismo. Tais ações nos permitem distinguir entre o que é realmente bom e mau, certo e errado de acordo com nossos costumes e tendências, criticando os conceitos impostos pela sociedade.
Não existe uma educação ideal e única. O bom educador é aquele que estimula o aluno, o que é fundamental para a aprendizagem. É preciso transmitir mais que teorias e técnicas, também significados e práticas, e perceber que a juventude atual é carente de valores, sentidos e atitudes. É visível que o ensino vai além do lado racional, ele possui também um lado artístico que cria possibilidades para o crescimento do aluno e para a construção do conhecimento. A reflexão como arte possibilita a quebra do funcionalismo dominate. A reflexão com a arte instiga sentimentos e sobrepõe o "ser" ao "ter".
Aprender, por sua vez, é mais que só reter conhecimento, é conceder-lhe um propósito, um significado, é transformá-lo. Aprender exige ação, determinação, vontade e disciplina. Nada deve ser aceito como pronto e encerrado, a repetição precisa ser substituída pela reflexão, pois esta permite ao aluno entender o que se passa em torno de si, instiga-o a buscar novas respostas.
A ênfase na reflexão é determinante, porque é a inteligência humana que constrói o mundo. Inteligência esta que se encontra reprimida em muitos pelo desejo de poder e acúmulo material tão marcante em nossa sociedade. Eis o real desafio de um educador: proporcionar espontaneidade e caminhos para transformações a longo prazo.
Precisamos de educadores (principalmente na rede pública) que tenham ciência do quanto seus alunos podem realizar, de uma comunicação aberta e ampla entre alunos e professores, de um processo dinâmico de informação. É essencial aprender em grupo a autonomia e a liberdade da mente. É fundamental a valorização das diferenças. É necessário tratar o ensino como uma arte.